terça-feira, fevereiro 15, 2005

Crónicas de um Subtítulo

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Na hora de se baptizarem as coisas, todos os nomes são rídiculos. O mesmo dizia do amor Fernando Pessoa quando em dias mais lúcidos, ao invés de se afogar em bagaço e ópio no Martinho da Arcádia escrevia umas quantas palavras a Ophélia Queiroz.

Como rídiculos deverão ser os dias lunares que antecipam toda e qualquer maternidade, com rídiculas pelejas pelo nome que se deseja que a prole concebida (mas ainda pré-nascitura) embandeire pela existência, Dinis Maria, Martim Afonso, Frederico Gustavo, porra de nomes, porca de sorte, julgará o progenitor perante os afrontamentos de classe da inflamada consorte. Inflamada, física e desvairadamente, "Ao meu filho não faltará nada, porra, nem um nome com pompa..."
"Gay, queres tu dizer", concebe no mais áspero desespero o pai a ser (sulforoso da vida, pensa já numa vasectomia).

Rídiculo vai este texto até agora e não se adivinha que melhore, mas pode ser que por estas acrobacias se chegue a um consenso sobre o quão díficil é arribar a um boa nomenclatura e surribar a língua na demanda de um nome sonoro e agradável e, mais importante, que possa responder aos agravos e aos agrados de todos e de cada um. Muitos julgarão: que expressão mediocre e merdívora é esta, "The Strapline Chronicles" e quase nenhuns verão nela utilidade alguma. Esse será o desafio primogénito, o de gerenciar em engenho e arte a creatividade que aqui escasseia.

Ainda assim, tenho para mim que na hora de se baptizarem as coisas todos os nomes são rídiculos: na hora inicial da criação poucas são as epifanias e quase nenhumas as metempsicoses. Este que (por agora) se chama The Strapline Chronicles poderia ter naufragado em nomes ainda mais ridículos como sejam "Gazeta dos Fartos", "Tribuna dos 99", "Mercúrio dos Duros" ou "Hospital-Velho", todos na órbita de alguma familiariedade, mas todos efémeros e parcos também. Uma amostra, esta que aqui fica, só para que se saiba o quão rídiculos são os jogos de humor ou as histórias que todos poderão contar que nunca farão nem os títulos dos jornais, nem os oráculos dos noticiários, nem pontos de partida para a conversa. Roteiros crónicos, dir-se-ia, pelos subtítulos e entretantos da experiência de vida de cada um.