segunda-feira, junho 13, 2005

Muralhas de Aço

O PC deve ser por estes dias o partido mais amargurado do planeta. Num largo par de horas caem aos desígnios da inevitabilidade e do mistério da vida - contra os quais a retórica marxista nunca teve grande coisa nem a dizer, nem a fazer - dois dos papas do catálogo dos líderes da alternativa proletária socialista.
Duas muralhas que tombam, uma cidadela ideológica que fende. Que o PCP de hoje não e senão uma sombra do PC do PREC e da Reforma Agrária, não hajam dúvidas. Que o carisma do PC se apaga um pouco por cada camarada que se extingue (e têm sido muitos nos últimos tempos) não deixa também de ser uma verdade. Que de Vasco Gonçalves se ressentem as planícies alentejanas e o Ribatejo puro, e a forçosa utopia de um Portugal sem o ávaro permeio da propriedade se fez experiência impossível por sua mao (tomando forma a via socializante para o qual o país nunca esteve verdadeiramente preparado), a história o diz e sussurra com vigor dos passos necessários, porque de todos os gestos se faz luz.
Agora Cunhal. E com Cunhal há toda uma epoca que se extingue. A da ortodoxia, mas também a da fidelidade. A da alternativa, mas tambem da ruptura. Como se o ponto do etorno retorno encontrasse com a morte de Cunhal a adivinhada estabilidade. Agora sim, fundiram-se as eras e o regresso e impossivél. Toquem de alívio os campanários e dancem os bispos na orla dos claustros.