quarta-feira, fevereiro 23, 2005

Um outro homem na manche

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Exercício (simples) de lógica. Na seguinte relação de elementos, descubra o elemento disssonante.

  1. Starlets
  2. Aviões
  3. Mega Produções de Hollywood
  4. Magnata
  5. Mulheres
  6. Tomates de Aço
  7. Mais Mulheres
  8. Leonardo di Caprio

Se respondeu "O que faz o Leonardo di Caprio ali no meio?", louvada seja a sua acutilância e a precisão do seu sentido de normaidade.

Se percebeu ainda que a razão de tanto floreado radica no paquiderme branco que está desde há algum tempo encalhado nas salas de cinema portuguesas, está verdadeiramente de parabéns, embora o rol de elementos da relação atrás mastigada aponte numa única direcção, essa mesmo da curta linha de horizonte de "O Aviador", a narrativa biográfica que Martin Scorcese produziu tendo como moteto a instável vida do milionário Howard Hughes, Jr.

Verdade, verdadeira, a vida de Howard Hughes não dava - como deu - um filme, mas um punhado deles, uns largos quilómetros de fita cinzelada com os excessos e os desvarios do milionário norte-americano. A abordagem de Scorcese, não obstante a dose devida de lirismo hollywoodesco, não deixa em momento algum de se adequar ao percurso do Hughes aventureiro, do Hughes with big balls, tanto no que respeita ao regimento de conquistas (famosas e femininas, faça-se saber), quanto à aposta naquela que terá sido a sua paixão mais forte, a dos aviões e das máquinas voadoras.

No primeiro dos quadrantes, são tantas as histórias e os nomes - Katherine Hepburn, Jane Russel, Ava Gardner - que sobre Howard Hughes, publicações como a Hola!, a Lux ou o 24 Horas podiam bem engendrar uma enciclopédia de dez volumes que por certo não teriam ainda assim esmiuçado tudo o que há para esmiuçar.

Se assim é, então o que falha na aproximação de Martin Scorcese ao periclitante mundo de Howard Hughes? Abençoada seja a sua inteligência prática se respondeu Leonardo di Caprio...

O fetiche de Scorcese em relação a Leonardo di Caprio poderá até ter resultado parcialmente em "Gangs de Nova Iorque" (onde a interpretação de di Caprio foi ofuscada por uma interpretação avassaladora de Daniel Day Lewis), mas num filme que tem em si incipiente tanta testosterona dissimulada em posse, em ambição e em resolução, o mínimo que se poderia exigir era que o papel de Howard Hughes fosse interpretado por um homem e não por um boneco de cera, um moço imberbe, semi-metrossexual na perspectiva de alcova das rapariguinhas de dezanove anos.

Para uma personagem da envergadura de Hughes o justo seria um George Clooney ou mesmo um Jim Carrey (senhor de uma interpretação brilhante em Eternal Sunshine of The Spotless Mind) com capacidade para incutir ao filme um arzinho de maturidade, uma circunspecta graça de masculinidade que pudesse diluir o periclitante carácter pueril de di Caprio, actor eternamente naufragado numa tediosa e ridícula adolescência, tão ridícula chega a ser, que o Howard Hughes louco e barbado da película se afigura inverosímil e contrafeito, um menino Jesus onde alguém, por maldade e heresia pintou uns bigodes parcos e negros. Houvesse Scorcese colocado um outro homem na manche..

3 Comments:

At 4:49 da tarde, Blogger cegueira said...

Nunca achei o Di Caprio um menino bonito e nunca gostei particularmente dos papéis que ele tem desempenhado, mas não posso discordar mais contigo. O Leonardo Di Caprio está simplesmente fabuloso no papel de Hughes, principalmente nas cenas em que representa a doença...
Não estou a ver o George Clooney em tal papel, até porque se bem me consta o senhor Hughes não tinha uma constituição tão robusta.
Concordo contigo, no entanto em relação ao fabuloso papel desempenhado pelo Jim Carrey no Filme que em portugues tem o título de "Despertar da Mente". E sinceramente acho que o senhor ganhou fama de comediante e ninguém se lembra de o meter a fazer outas coisas... E talvez por isso mesmo o filme, não teve o reconhecimento merecido. Fui ver o filme ao cinema dois dias depois da estreia e, para além de ter sido transferido para uma das salas mais pequenas, estavam cerca de meia duzia de pessoas a assistir...

 
At 6:02 da tarde, Blogger Marco Mendes Velho said...

Minha cara, graças a essa coisa que temos e que se chama liberdade, faço uso daquele adágio hermanniano que salvaguarda a validade das opiniões, por muito dispares que sejam. As opiniões, terá a minha cara presente, são como as vaginas,cada um dá a sua. E eu mantenho em rigor o que escrevi: Leonardo di Caprio é pequeno para um papel como este. Se quiser tirar a limpo o que digo
basta que leia duas ou três páginas das muitas que existem sobre Hughes na Internet para perceber que o excentrico senhor tinha uma força de carácter fora do comum e que esse carácter até no semblante do homem se fazia visivel. Em di Caprio carácter é lacuna. O rapaz para parecer crescido franze o sobrolho e berra alta. Mas é só. E não basta...

 
At 6:14 da tarde, Blogger cegueira said...

Não podias ser mais contraditório no que dizes. Se as opiniões cada um as dá, como tu dizes (enquanto que as vaginas nem todos as podem dar, tu por exemplo que eu saiba estás impedido disso mesmo:) ), então também sou eu livre de dar a minha opinião, e fui isso que fiz.
Perdoa-me se feri alguma susceptibilidade, mas ainda bem que não partilhamos todos das mesmas opiniões.
Viva a pluralidade!!!

 

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