sábado, fevereiro 26, 2005

"Mo Cuishle"

Million Dollar Baby é um filme excepcional, em todos os aspectos. Poderia ser considerado uma espécie de vaidade de um homem que no grande ecrã já só tem rugas para mostrar, mas longe disso (apesar de ser impossível não reparar nelas), Clint Eastwood conseguiu demonstrar, acima de tudo, que a velhice é uma atitude. Que ainda tem muito para dar aos 74 anos de idade.
Tornou-se um herói do gatilho nos filmes que os nossos pais devoravam (o meu pelo menos) e muitos anos depois eis que chega até nós com um filme sem artificios nem efeitos especiais, sem necessidade de grandes produções e orçamentos e sem estrelas que brilhem mais do que outras. A mim só me conquistou agora pois nunca fui muito de histórias de cowboys e pistolas.
No filme, o boxe é uma espécie de metáfora para explorar a violência entre as relações e a deterioração dos laços familiares. H. Swank, que a propósito sempre se saiu muito bem em papéis masculinos (veja-se a excelente interpretação em Boys Don't Cry) é filha de família pobre, e quer realizar o sonho de ser pugilista, mas quando vinga no boxe, não consegue fazer com que a sua familia lhe reconheça o mérito.
Eastwood, por sua vez, afastado da filha por razões que nunca são esclarecidas durante o filme, projecta essa perda na pugilista, e deixa-a aproximar-se dele, quebrando o isolamento em que há muito vivia.
E depois há ainda Morgan Freeman, um narrador cuja voz inconfundível e insubstituível nos toca no fundo desde o primeiro segundo da película. Ele e Eastwood protagonizam algumas cenas de puro deleite que, ao tratar-se de outro qualquer filme, diriamos não fazer qualquer sentido.
Million Dollar Baby é um daqueles filmes que nos faz esquecer das pipocas que temos nas mãos e que nos faz tirar os lenços de papel para limpar a lágrima no canto do olho. Um sério candidato aos Óscar de amanhã. Para mim, sem dúvida, vencedor com mérito...

PS.: Para perceber o título é preciso ver o filme.
E mais não digo....