domingo, março 27, 2005

Mil e uma Escolhas - Razão Segunda: A febre da fama

Não há português que não sonhe ver o nome espargatado nas páginas dos jornais. Nada de bizarro ou sequer de muito exclusivista: afinal o mesmo acontece em feudos supostamente mais avançados da civilização. O que espanta no portugesismo do fenómeno é a tendência para criar fama a partir do nada ou de processos de fertilização do sucesso tomando por expoente a parentela próxima já afamada: os últimos nomes de uma tal praxe ganham forma nas linhas roliças de Ronalda (puto de nome!!!), irmã do crque do Manchester United de mau gosto epónimo, e nas curvas, bem mais talentosas da prole de Miguel Esteves Cardoso. Sem constituir motivo outro de orgulho que não manacial para jorros de pai babado, o autor de "O Amor é Fodido" fez jus ao título da obra e provou que sabe fazer outras coisas boas para além de escrever. A feição "tachativa" do país fez o resto: deu às meninas um programa de televisão.

quarta-feira, março 23, 2005

Portugal Hoje, O Medo de Existir

Perceber as mentalidades do povo português e as razões para a nossa falta de optimismo é o que nos propõe José Gil.
Portugal Hoje, O Medo de Existir foi escrito a jeito de livrinho de bolso, em cerca de 120 páginas o filósofo português expõe de um modo simplesmente fabuloso a sociedade em que vivemos. Por pouco mais de 10 euros percebe-se Portugal, para além das tais 1001 razões.

segunda-feira, março 21, 2005

Mil e uma escolhas

Abençoados sejam os CTT! Desde que impingiram à clientela em espera romances de cordel aperaltados com capas cor de arco-íris que a minha vida tem sido um sem fim de descobertas. Foi graças a tal bem-aventurança que descobri esse grande bastião da “luso bem querença” que é o manifesto “1001 razões para se gostar de Portugal”, dessa eminência da intelectualidade lusíada que é o Dr. José Carlos Abrantes.
Mascarada sob a humilde inflexão de um ópusculo, com capa verdiroja enfeitada de ícones não ortodoxos e pouco esquálidos, o ínsigne escrito, editado pela “Texto Editora”, pugna por um frondoso optimismo, distinto e esclarecente, capaz de vencer os pessimismos mais afoitos e de convencer todo e qualquer português virginal nacionalista ou patriota devoto da indiscutível superioridade das mais valias da nação. Sendo um daqueles números quadrados que servem os propósitos de número redondo, entre as mil e uma razões enunciadas encontramos tudo o que seja iguaria regional ou pitéu gastronómico, tudo o que seja museu, livraria ou futebolista premiado, exemplos tonitruantes do bem comum exponenciado e do sucesso que de bom grado devemos reivindicar, a bem do nosso ego, como sendo nosso.
Eu, que continuo a achar que o Figo ou o Cristiano Ronaldo lá têm o ego deles e eu continuo com o meu, bem realista e bem lá no sítio dele, proponho – não por desfeita para com o Dr. José Carlos Abrantes – que se escreva uma bíblia similar, só que para pessimistas. Afinal também temos o direito de não ver alegria por todo o lado ou de desgostar dio Verão, de Lisboa e do Algarve.
Proponho, pois, a antítese, as “1001 razões (comentadas) para se não gostar assim tanto de Portugal”, a começar por uma razão imediata:

1.A existência de uma editora que publica mil e uma razões subjectivas para se gostar de Portugal: Mil e uma razões que em muito pouco constituem um apanágio da nação, mas que confluem, quando muito, a imperatividade da história e da circunstância, afirmando concretizações culturais que instituem mais uma diversidade rica que uma homogeneidade pobre es esforçada.
A razão prevalente é, no entanto, outra, O fraco sentido de percepção realista dos portugueses marinou-os durante séculos numa mitogénese messiânica, na demanda de um sebastião profético que liberte e redima. Estanque que está a acepção messiânica, os portugueses entregam-se à mitologia de um amor-próprio ofuscante: somos bons porque bebemos muito, porque vomitamos muito, porque temos no Guiness os maiores cornos de carneiro, o maior pão com chouriço ou a maior salada de fruta. E temos também nisto do amor-próprio o nosso maior problema: não na escassez, mas no excesso. Como dizia Vasco Pulido Valente há algum tempo atrás, tanto amor próprio e tão infecundo, não cria, só destroi.

segunda-feira, março 14, 2005

Para Meditar

ESSA È QUE È ESSA:..............

VAMOS MEDITAR.....






"Na Noruega, o horário de trabalho começa cedo (às 8 horas) e acaba cedo (às 15.30).
As mães e os pais noruegueses têm uma parte
significativa dos seus dias para serem pais, para proporcionar aos filhos algo mais do
que um serão de televisão ou videojogos.
Têm um ano de licença de maternidade e nunca ouviram falar de despedimentos por gravidez."


"A riqueza que produzem nos seus trabalhos garante-lhes o maior nível
salarial da Europa. Que é também, desculpem-me os menos sensíveis ao argumento, o mais igualitário.
Todos descontam um IRS limpo e transparente que não é depois desbaratado em rotundas e estatuária kitsh, nem em auto-estradas (só têm 200 quilómetros dessas «alavancas de
progresso»), nem em Expos e Euros."


"É tempo de os empresários portugueses constatarem que, na Noruega, a
fuga ao fisco não é uma «vantagem competitiva». Ali, o cruzamento de dados «devassa» as contas bancárias, as apólices de seguros, as propriedades móveis e imóveis e as «ofertas» de património a familiares que, em Portugal, país de gentes inventivas, garantem anonimato aos
crimes e «confundem» os poucos olhos que se dedicam ao combate à fraude económica."


"Mais do que os costumeiros «bons negócios», deviam os empresários portugueses pôr os olhos naquilo que a Noruega tem para nos ensinar.
E, já agora, os políticos.
Numa crónica inspirada, o correspondente da TSF naquele país, afiança que os ministros não se medem pelas gravatas, nem pela alta cilindrada das suas frotas. Pelo contrário, andam de metro, e não se ofendem quando os tratam por tu.
Aqui, cada ministério faz uso de dezenas de carros topo de gama, com vidros fumados para não dar lastro às ideias de transparência dos cidadãos. Os ministros portugueses fazem-se preceder
de batedores motorizados, poluem o ambiente, dão maus exemplos e gastam a rodos o dinheiro que escasseia para assuntos verdadeiramente importantes."


"Mais: os noruegueses sabem que não se «projecta o nome do país» com despesismos faraónicos, basta ser-se sensato e fazer da gestão das contas públicas um exercício de ética e responsabilidade. Arafat e Rabin assinaram um tratado de paz em Oslo. E, que se saiba, não foi
preciso desbaratarem milhões de contos para que o nome da capital
norueguesa corresse mundo por uma boa causa."


"Até os clubes de futebol noruegueses, que pedem meças aos seus congéneres lusos em competições internacionais, nunca precisaram de pagar aos seus jogadores 400 salários mínimo por mês para que estes joguem à bola.
Nas gélidas terras dos vikings conheci empresários portugueses que ali montaram negócios florescentes. Um deles, isolado numa ilha acima do círculo polar Árctico, deixava elogios rasgados à «social-democracia nórdica». Ao tempo para viver e à segurança social."

"Ali, naquele país, também há patos-bravos. Mas para os vermos precisamos de apontar binóculos para o céu. Não andam de jipe e óculos escuros. Não clamam por messias nem por prebendas. Não se queixam do «excessivo peso do Estado», para depois exigirem isenções e
subsídios."



É tempo de aprendermos que os bárbaros somos nós.
Seria meio caminho andado para nos civilizarmos.

É por isso o país mais desenvolvido do mundo segundo a ONU, e também para aqueles que pensam que as monarquias não são democráticas e são algo do Século XIX, a Noruega é uma Monarquia.

sexta-feira, março 11, 2005

Convite

Deixo aqui a todos os leitores e não só, que participam neste blogue, que deixem cair durante um pouco de tempo os olhos sobre um livro que está escrito há alguns anos, e que decidi publicar num blogue.

Gostava de recolher comentários e críticas, de vós caros colegas.

O livro e o blogue têm o nome de "Manifesto de um Louco".

segunda-feira, março 07, 2005

Serviço Público. Os livros de cada um, os livros dos livros, os livros de todos. Com a chancela da Fundação Gulbenkian.

sexta-feira, março 04, 2005

Desafios de Estilo

Tenho na mão o "Livro de Estilo" do "Público". Segunda edição, a resfolegar de nova, coordenada por António Granado, actualizada grão-a-grão por uma mão cheia de nomes conhecidos - Clara Barata, José Vítor Malheiros, José Bento Amaro, Teresa Firmino - bons profissionais e testemunhos sólidos de bom jornalismo, disso não haja dúvida.
Eu, que aspiro a tal solidez, tenho neste livro uma bíblia, um cruzador imenso que navega por todas as coisas que o bom jornalista deve ser e possuir, um sentimento ético e o conhecimento das coisas e das causas, de Sucre, capital constitucional da Bolívia, da grafia de paul e de Raul (ambos libertos e não acentuados), do significado sangrento de "ustasha" ou do lugar certo de Mandalay, Birmânia.
A resfolegar de nova, a segunda edição do "Livro de Estilo" do "Público" é uma resposta segura a quase todas as dúvidas do jornalista: éticas ou linguísticas, gráficas ou substânciais. Está lá a alma do negócio, transparente e lúcida, os segredos e os reparos formais a serem feitos e o rigor e a esquadria (certos neste domínio), passíveis quase de quantificação, necessários para que se erradique o erro e a parcialidade das páginas dos jornais. Em muito estilizar é objectivar.
Livro de Estilo, segunda edição. Está lá a alma, mas não está a moral do negócio, que um livro de estilo discute questões formais, nunca a estrutura e o meio.
Da estrutura e do meio ninguém quer falar. Nem os livros de estilo, nem os jornais, nem os jornalistas de carteira e coluna semanal, nem as universidades, nem os governantes, nem... sei lá..
Que importa, pois então, navegar contra a maré ou mijar contra o vento?
Importa, por uma unica razão. Razão que se traveste com um sem fim de nomes e que se confunde, até, com a ética que transborda dos livros de estilo e dos códigos deontológicos mas que tem para este efeito um nome maior, sonoro e válido: dignidade profissional.
"Livro de Estilo", página 19. Ética e Deontologia. Lá do alto, nas grandes redacções do país, acredito que seja fácil absorver com insofismável devoção os preceitos do capítulo e aceitar que é assim que se deve agir, daí que exista um único sentido possível para a observância dos aspectos éticos: a obediência.
Fora delas, o mundo é cão e não há catecismo que mais valha. E se tal acontece, acontece mais porque o meio o impõe do que por vontade expressa do jornalista ou do aspirante a jornalista, caso exista quem considere que uma licenciatura não justifica em termos técnicos uma tal qualificação. Em casos que tais, pode-se dizer que o jornalista é, na prática, um pecador consciente: sabe que há uma margem de pecado palpável no que faz, um não sei que de insidioso e anti-ético mas, qualquer que seja a opção que escolha, sobra-lhe em condenação o que falta em dignidade profissional. Ou peca ou morre.
A dignidade profissional devia funcionar no ambito do jornalismo como uma espada de dois gumes. Sob o aval de vassalagem da Comissão da Carteira Profissional não funciona. A referida instituição (ou será organização?) impõe o exercicio continuado da profissão para que o título seja garantido. No entendimento de classe da CCPJ, o aspirante a jornalista que tenha cursado comunicação social ou jornalismo numa universidade ou escola superior é pouco mais que carne para canhão, um peão no imenso xadrez da falta de pudor empresarial e de consciência ética do patronato: antes de conseguir "comprar" o pequeno cartão de plástico duro (demodée quanto baste) o licenciado em jornalismo ( e só por ai jornalista com potencial) tem que comer o pão que o diabo amassou para que tenha direito a um salário que só não envergonha políticos, comentadores, jornalistas de carteira e doutores universitários porque se trata de Portugal e de Portugal se tratando uns e outros bebem da mesma essência: da cumplicidade e da falta de seriedade.
Até no uso da língua se absorve uma certa repressão patológica quando o que está em questão são os ditos aspirantes a jornalistas; em vez de jornalistas por direito próprio, os formados e os formandos em jornalismo e comunicação são aos olhos do sector "pãezinhos de fornada": findo um novo ano lectivo, uma nova "fornada" se condena aos recibos verdes, ao trabalho não declarado, às colaborações dúbias, a uma forma não explorada de escravatura intelectual que condena o país a um ciclo de retornos eternos àquilo que sempre foi nele característico, a arte vergonhosa de desperdiçar mais valias.

terça-feira, março 01, 2005

Mar Adentro

Eis que vos escrevo novamente para falar de cinema.
Próximo filme na lista de prioridades: Mar Adentro de Alejandro Aménabar, que aliás levou para casa o Óscar de melhor filme estrangeiro.
A história é verídica. Ramón Sampedro foi atirado para a cama após um mergulho mal calculado. Sem movimentos, sem perspectivas de futuro e inconformado com a vida que lhe restava, sem que dela pudesse usufruir como fazia antes do episódio fatídico, encara a morte com a sua prioridade.
O filme, como aliás já devem ter ouvido falar, relançou o debate sobre a eutanásia no país vizinho. Ramón não conseguiu, legalmente, uma morte com dignidade, mas cumpriu o seu desejo por outros meios.
O filme não é só isto. Há duas mulheres que aparecem no seu caminho. Uma que o ajuda a vencer a sua causa na justiça, que por sua vez acaba também dependente do marido devido a uma doença degenerativa. E outra que tenta convencer Ramón a viver, dando-lhe motivos que ele se recusa a aceitar.
O filme comove até os mais impávidos cinéfilos. A relação da familia com Ramón é extremamente comovente. Um pai que finge não sofrer com o desejo do filho. Um irmão que se recusa a aceitar a decisão de Ramón. Um sobrinho que é também filho. E uma cunhada que é mãe.
Relações familiares e sentimentos explorados ao máximo num cenário restrito mas que torna o filme único. Não chega sequer aos pés de uma grande produção americana e ainda consegue que saíamos do cinema com uma série de questões a pairar o nosso pensamento. Porque é que é tão dificil aceitar que um ser humano em estado terminal e completamente dependende de outrém não tenha direito a por fim à vida?
Eu sou completamente a favor da eutanásia. Ê vocês, caros colegas? Opiniões aceitam-se. Está lançado o debate...