sábado, fevereiro 26, 2005

"Mo Cuishle"

Million Dollar Baby é um filme excepcional, em todos os aspectos. Poderia ser considerado uma espécie de vaidade de um homem que no grande ecrã já só tem rugas para mostrar, mas longe disso (apesar de ser impossível não reparar nelas), Clint Eastwood conseguiu demonstrar, acima de tudo, que a velhice é uma atitude. Que ainda tem muito para dar aos 74 anos de idade.
Tornou-se um herói do gatilho nos filmes que os nossos pais devoravam (o meu pelo menos) e muitos anos depois eis que chega até nós com um filme sem artificios nem efeitos especiais, sem necessidade de grandes produções e orçamentos e sem estrelas que brilhem mais do que outras. A mim só me conquistou agora pois nunca fui muito de histórias de cowboys e pistolas.
No filme, o boxe é uma espécie de metáfora para explorar a violência entre as relações e a deterioração dos laços familiares. H. Swank, que a propósito sempre se saiu muito bem em papéis masculinos (veja-se a excelente interpretação em Boys Don't Cry) é filha de família pobre, e quer realizar o sonho de ser pugilista, mas quando vinga no boxe, não consegue fazer com que a sua familia lhe reconheça o mérito.
Eastwood, por sua vez, afastado da filha por razões que nunca são esclarecidas durante o filme, projecta essa perda na pugilista, e deixa-a aproximar-se dele, quebrando o isolamento em que há muito vivia.
E depois há ainda Morgan Freeman, um narrador cuja voz inconfundível e insubstituível nos toca no fundo desde o primeiro segundo da película. Ele e Eastwood protagonizam algumas cenas de puro deleite que, ao tratar-se de outro qualquer filme, diriamos não fazer qualquer sentido.
Million Dollar Baby é um daqueles filmes que nos faz esquecer das pipocas que temos nas mãos e que nos faz tirar os lenços de papel para limpar a lágrima no canto do olho. Um sério candidato aos Óscar de amanhã. Para mim, sem dúvida, vencedor com mérito...

PS.: Para perceber o título é preciso ver o filme.
E mais não digo....

quinta-feira, fevereiro 24, 2005

No mundo dos senhores doutores professores...

Todas as semanas fico à beira de um ataque de nervos. Hoje foi um dia não.
As coisas no nosso país correm tão mal que para que consigamos dizer bom dia a um qualquer médio de uma qualquer especialidade de um qualquer hospital temos que correr as extensões todas do edificio, passar por todas as especialidades, todas as secretárias dos senhores doutores, até nos dizerem que para que consigamos falar com o senhor doutror professor (e mais não sei quantos títulos) teremos que enviar um fax a outro senhor doutor professor que também é presidente do conselho de administração do serviço responsável pela especialidade não sei das quantas. E tem mesmo que ser fax, porque email na função pública e em especial no Ministério da Saúde, deve existir para poucos o utilizarem. Basta ter em conta que os emails do ministerio têm sempre a seguir ao @ a identificação do serviço mais uma parafernália de pontos e traços que se misturam com "min" e "saude" que às tantas quando nos ditam ao telefone já nem percebemos como se escreve. Mas eles fazem isso de propósito, eu sei, é para que as pessoas escrevam mal o endereço e o mail não chegue ao seu destino.
A conclusão no meio disto tudo é que nunca conseguimos falar com quem queremos... a não ser que esperemos um mês depois pela resposta! O que para quem três páginas pendentes para escrever até segunda feira se torna impensável.
Esta semana ando metida, salvo seja, com os meningococos e com a meningite. Não vos passa pela cabeça a quantidade de telefonemas que eu fiz desde terça feira, para finalmente, e só hoje à tarde, conseguir roubar 30 minutos a uma médica do Santa Maria. Nem de clínicas privadas falam comigo!!! As desculpas não são variadas. Parece que a classe médica despacha os jornalistas com uma resposta universal e mandam as secretárias dizer-nos: "o senhor doutor professor está em reunião". E se ligarmos mais tarde a resposta não se altera. Por acaso, se tivermos a sorte de apanhar o médico no corredor ou uma secretária mais insistente lá conseguimos dizer bom dia ao senhor doutor que também é professor e director do serviço de não sei o que, que "a meningite não pode ser abordada com leveza, está a contactar-me muito em cima da hora, não posso garantir-lhe que tenha tempo para responder às suas dúvidas".
Pergunto-vos eu: como é que se pode ter paciência para ouvir uma resposta destas, depois de todas as tentativas que fizemos durante a semana para chegar ao simples bom dia????

quarta-feira, fevereiro 23, 2005

Um outro homem na manche

Hosted by Photobucket.com

Exercício (simples) de lógica. Na seguinte relação de elementos, descubra o elemento disssonante.

  1. Starlets
  2. Aviões
  3. Mega Produções de Hollywood
  4. Magnata
  5. Mulheres
  6. Tomates de Aço
  7. Mais Mulheres
  8. Leonardo di Caprio

Se respondeu "O que faz o Leonardo di Caprio ali no meio?", louvada seja a sua acutilância e a precisão do seu sentido de normaidade.

Se percebeu ainda que a razão de tanto floreado radica no paquiderme branco que está desde há algum tempo encalhado nas salas de cinema portuguesas, está verdadeiramente de parabéns, embora o rol de elementos da relação atrás mastigada aponte numa única direcção, essa mesmo da curta linha de horizonte de "O Aviador", a narrativa biográfica que Martin Scorcese produziu tendo como moteto a instável vida do milionário Howard Hughes, Jr.

Verdade, verdadeira, a vida de Howard Hughes não dava - como deu - um filme, mas um punhado deles, uns largos quilómetros de fita cinzelada com os excessos e os desvarios do milionário norte-americano. A abordagem de Scorcese, não obstante a dose devida de lirismo hollywoodesco, não deixa em momento algum de se adequar ao percurso do Hughes aventureiro, do Hughes with big balls, tanto no que respeita ao regimento de conquistas (famosas e femininas, faça-se saber), quanto à aposta naquela que terá sido a sua paixão mais forte, a dos aviões e das máquinas voadoras.

No primeiro dos quadrantes, são tantas as histórias e os nomes - Katherine Hepburn, Jane Russel, Ava Gardner - que sobre Howard Hughes, publicações como a Hola!, a Lux ou o 24 Horas podiam bem engendrar uma enciclopédia de dez volumes que por certo não teriam ainda assim esmiuçado tudo o que há para esmiuçar.

Se assim é, então o que falha na aproximação de Martin Scorcese ao periclitante mundo de Howard Hughes? Abençoada seja a sua inteligência prática se respondeu Leonardo di Caprio...

O fetiche de Scorcese em relação a Leonardo di Caprio poderá até ter resultado parcialmente em "Gangs de Nova Iorque" (onde a interpretação de di Caprio foi ofuscada por uma interpretação avassaladora de Daniel Day Lewis), mas num filme que tem em si incipiente tanta testosterona dissimulada em posse, em ambição e em resolução, o mínimo que se poderia exigir era que o papel de Howard Hughes fosse interpretado por um homem e não por um boneco de cera, um moço imberbe, semi-metrossexual na perspectiva de alcova das rapariguinhas de dezanove anos.

Para uma personagem da envergadura de Hughes o justo seria um George Clooney ou mesmo um Jim Carrey (senhor de uma interpretação brilhante em Eternal Sunshine of The Spotless Mind) com capacidade para incutir ao filme um arzinho de maturidade, uma circunspecta graça de masculinidade que pudesse diluir o periclitante carácter pueril de di Caprio, actor eternamente naufragado numa tediosa e ridícula adolescência, tão ridícula chega a ser, que o Howard Hughes louco e barbado da película se afigura inverosímil e contrafeito, um menino Jesus onde alguém, por maldade e heresia pintou uns bigodes parcos e negros. Houvesse Scorcese colocado um outro homem na manche..

Lembrança

Não quero por este meio fazer publicidade ao meu próprio blogue, mas gostaria que pelo menos participassem na votação acerca do futuro governo PS. O blogue chama-se tasquinha
Poderão existir alguns problemas de cache, mas façam refresh. obrigado

terça-feira, fevereiro 22, 2005

Dar ou não dar a ler?

Tomando uma atitude humilde, após a entrevista a uma médica concordei em enviar-lhe o artigo antes deste ser publicado. Uma vez que nestas coisas da medicina o mais provável é interpretarmos alguma coisa ao contrário, ou simplesmente não explicar correctamente determinados conceitos.
O tema era o cancro, uma coisa que só por si não é de todo agradável de se falar e muito menos fácil de interpretar. De modo que lá enviei eu o texto à Sra Drª, e lá me enviou ela o texto de volta com algumas correcções que de facto me pareceram pertinentes e que efectuei.
O problema fez tocar o meu telemóvel hoje de manhã. Era novamente a dita cuja médica que me pedia para fazer novas alterações alegando que "os leitores precisam de ter as coisas muito claras para não haver más interpretações", e que "uma coisa é uma conversa e outra coisa é escrever o que se disse". Não havia já hipoteses de mudar mais nada e mesmo que houvesse, não mudava nem mais uma virgula. Quando damos o pé querem logo a perna e vai daí mais alteração menos alteração ainda teria que assinar com o nome dela.
Servem estas palavras para vos dizer que não caio novamente no mesmo erro. Se daqui para a frente disser alguma coisa mal, ou meter os pés pelas mãos, prefiro publicar uma errata do que dar o texto a ler!!

Que opinião têm voces, caros colegas? Já passaram por situações semelhantes?

Manual do Eleitor Indigente

Hosted by Photobucket.com

A maioria absoluta conseguida anteontem pelo Partido Socialista é muito menos absoluta que aquilo que dela se pode julgar à partida. Há nela uma partícula de complexidade e outra de resiliência que se explicam ora pela inépcia dos portugueses na hora do voto, ora pela ausência afectiva de soluções credíveis. Quando assim acontece, a tendência do voto envereda por uma uniformização espiralada, conivente com uma brusca homogeneização do voto num único sentido, o da justiça cega e castigadora.

O escrutínio do passado domingo repete, nesse sentido, escrutínios passados, ainda que com consequências mais nefastas, desta feita para a trupe de Santana Lopes: dado o carácter dúbio das políticas consignadas pela coligação governamental nos últimos meses, dado o deficit de confiança do eleitorado ora no sistema, ora nos actores políticos, o acto eleitoral, tal qual os autos do Santo Ofício ou as fogueiras da Inquisição, serviu menos para eleger do que para castigar.

Mas castigar o que, afinal? A julgar pela complacência e aguerrida superficialidade da maior parte dos portugueses (que vivem bem com a miséria dos seus semelhantes, com o funesto circo de favores e compadrio, com a corrupção e a falta de seriedade) Santana Lopes poderá ter perdido as eleições à custa do fascínio estúpido pelo poder que sempre o caracterizou, no exacto momento em que procurou moldar e metamorfosear o preceito da liberdade em conivência com a sua própria visão da democracia, uma democracia desassombrada de nuvens e de abutres.

Marinados que estamos todos na prosaica mitologia do 25 de Abril e na serena majestade da Revolução dos Cravos, a ideia de liberdade - tida, nestes mesmos termos, de ideia abstracta e nada objectiva - é uma ideia cara aos portugueses: os portugueses perdoam tudo (perdoam os mais baixos índices salariais da Europa, perdoam a má fé patronal, os abusos de confiança e a ineficácia do ensino superior) mas não toleram que se ponha em causa a laica santidade inerente ao conceito de liberdade, ainda que não saibam bem o que tal significa, se é apenas a ausência de uma polícia política, se é a possibilidade de um comentador poder dizer mal abertamente do líder do seu próprio partido, se é a isenção política dos meios de comunicação social controlados pelo Estado ou o direito a reivindicar novas fronteiras para a moral ou a legalidade.

A nova - e também primeira - maioria absoluta socialista tem assim um certo condão de falibilidade. Tenro na liderança do Partido Socialista, José Sócrates não teve nem o tempo, nem a habilidade, nem a oportunidade factual para demonstrar se tem estofo e inteligência para liderar alguma coisa (o seu próprio partido inclusive). Não protagonizou uma campanha resoluta e transparente, nem ofereceu aos portugueses garantias credíveis de que o rumo do país e do amor próprio dos portugueses poderá ser nos próximos quatro anos diferente e enriquecedor.

Sócrates limitou-se a recolher e a processar em votos o desagravo e a falta de confiança dos portugueses, da mesma forma que em 2002 Durão Barroso venceu os socialistas tendo por base o mesmo pressuposto, o do voto castigador e cego, que premeia não os projectos de futuro, mas penaliza, sim, as prestações do passado.

Se quem vos escreve estas linhas fosse um escritor de latitudes sul-americanas, a defesa de que o único voto castigador que redime é aquele professado pelas revoluções e pelas armas seria feita sem escrúpulos, nem consciência, uma vez que o voto que castiga, para toda e qualquer instância, não é um voto de fé, mas sim e quase sempre um voto de ódio.

Sócrates, crónico vencedor antecipado do escrutínio de domingo passado dispõe de todas as condições para governar durante os próximos quatro anos com conforto e profícua margem de manobra, mas se não for capaz de incutir seriedade e credibilidade às instâncias dirigentes, daqui a quatro anos, e disso não tenho dúvidas, a vassourada inócua (e pouco eficiente, diga-se) do voto castigador varre-o com a mesma naturalidade com que relegou agora Santana Lopes para um limbo político manifestamente devastador.

Se a um novo governo se fizerem corresponder costumes antigos, mais vale mesmo que Sócrates (ironia, ter nome de filósofo que bem falava) não chegue sequer a ser empossado e que, no entretanto, caia do céu uma invasão de Espanha ou um Marquês de Pombal. Até porque para Sócrates o desafio da maioria absoluta é duplo e tão certo quanto a impossibilidade da parede ou o gume da espada: ou o governo PS garante ao país a estabilidade desejada e o crescimento necessário ou daqui a quatro anos - como os portugueses comungam de horizontes curtos e flexíveis - um novo acto eleitoral de vingança se prepara, caindo em definitivo o país num vazio assustador de causas e soluções. Assim por assim, ruim por ruim, qualquer dia porque não votar... em mim?

Educação Cívica

Concordo plenamente que os currículos usados em Portugal são algo desadequados.

Uma aula de educação cívica que explicasse como funcionam as instituições, a democracia, o estado, era algo de essencial.

Aliás também será por isso, por exemplo, que os Portugueses fogem aos impostos. Não existe em muitos portugueses uma consciência cívica e de cidadania.

Mas num país em que a sua própria história é completamente desvalorizada, e eu penso que era essencial pelo menos até ao nono ano existir uma disciplina de história de Portugal, não é de admirar este estado de coisas.

Ressalvo que não defendo este ensino por razões de patriotismo absurdo ou saudosismo, mas porque encaro que uma das razões porque neste momento Portugal passa por uma crise de identidade é exactamente o desconhecimento da nossa cultura, das nossas capacidades ou seja da nossa posição do mundo.

Voltando ao assunto anterior, podíamos sempre optar pela solução extrema brasileira, que é a obrigatoriedade do voto.

No entanto penso que a educação cívica dos portugueses é a solução mais adequada e com menos anticorpos nos cidadãos.

segunda-feira, fevereiro 21, 2005

Eleições 2005 - Votos

Venho aqui demonstrar dados que apenas os meios de informação escrita revelam, o que mostra que a imprensa será sempre importantíssima na explicação da realidade, e sublinha as limitações das televisões ou rádios.

São dados que vale a pena ver e que interessarão sobretudo a quem gosta de política.

Falam do Sucesso destas eleições, do aumento de votantes. Mas eu pergunto, que amor à democracia têm os portugueses quando 35% destes não votam. Mais de um terço dos Portugueses não votou nestas importantíssimas eleições, ou ainda 1 em cada 3 portugueses não votaram.

Houve 5.711.981 votantes e não votaram 3.072.721.

Ainda podemos pensar em quem traballhou, ou está doente, ou está morto. Mas concerteza não são 3 milhões de pessoas.

Mostra a fraca democracia que temos.

Aliás, quem venceu as eleições não foi o PS com 2,6 milhões de votos, mas sim a abstenção com 3,1 milhões de votos.

Ainda a juntar à abstenção temos 103.555 votos brancos, correspondentes a 1,81% e 63.765 votos nulos que correspondem a 1,12%.

Tendo em conta que o partido mais votado daqueles que não têm asssento parlamentar teve 47.745 votos, a sexta força política em Portugal é o voto branco e a sétima o voto nulo., isto se não contarmos os abstencionistas.

Outro dado interessante o número de votantes em branco duplicou em relação às últimas eleições.

Dou um valor enorme aos votos em branco, pois são pessoas que demonstram o seu descontentamente em voto e não se demitem do seu direito e dever.

Vírus Perigoso - Alerta

Hosted by Photobucket.com



"Se receber um e-mail tendo como subject "ACHILIPU", elimine-o

imediatamente SEM ABRIR. Este é o MAIS PERIGOSO vírus que alguma vez existiu. Se abrirem o e-mail, o disco duro vai-se formatar automaticamente.

Para além disso, a mensagem é automaticamente enviada a todas as pessoas do vosso Address book.

Mas isto não é tudo!!

Apagará o conteúdo de todas as disquetes que se encontrem à volta

do computador e bloqueará o telemóvel, isto para além de cortar a luz

do edifício inteiro, disparar o alarme de incêndio e fazer com que não vos depositem o salário do mês seguinte. Também desmagnetiza a banda magnética dos vossos cartões de crédito e multibanco, estraga as cabeças de leitura do vídeo e apaga o conteúdo de todos os vossos CD's de música gravando em cima os êxitos do "Emanuel" e da "Ágata", fura todos os preservativos que tenham em casa e esconde as chaves do carro para que cheguem tarde ao trabalho. Se o ACHILIPU chega ao ponto de se transformar em ACHILIPU-APU-APU então far-vos-á ter pesadelos, deitará açúcar no depósito de gasolina do vosso carro, mudará o vosso carro de sítio nos parques de estacionamento para que vos seja impossível encontrá-lo, levará o cão a passear, dará banho ao vosso gato e deixará mensagens libidinosas no gravador de mensagens da vossa sogra. E PIOR QUE TUDO ISTO, diria mesmo CATASTRÓFICO, é que automaticamente, o grande animal faz-te SÓCIO DO BENFICA!!"

sábado, fevereiro 19, 2005

Actualização

Largos são os dias, curtos são os passos. O meu outro poiso - Prestes João, pois então - foi actualizado. Intimamente actualizado.

quinta-feira, fevereiro 17, 2005

Sobre os temas que escrevemos...

Quebrando o silêncio.
Trabalhar na área da saúde dá-nos uma perspectiva diferente das coisas e, sinceramente nem sei muito bem que abordagem fazer aos temas sobre os quais escrevo. Esta semana estou a fazer um trabalho sobre o cancro. É a primeira e última vez, que de livre iniciativa escolho tal tema. Por ser terrivelmente dificil conseguir ficar indiferente ao que se ouve.
Acabei de desligar o telefone e desejar boa sorte a um rapaz de 34 anos que sabe que está a morrer e que descobriu a doença porque lhe diagnosticaram apendicite que não existia. Apetece-me escrever sobre o mal que funciona o sistema nacional de saúde em Portugal, apesar de ontem ter ouvido uma investigadora durante 2 horas a dizer-me que hoje é possível fazer o diagnóstico do cancro numa fase precoce pois há uma ligação entre as várias entidades que lidam com o problema do cancro. É possível, mas não se faz. E o problema é que nem todas as pessoas têm acesso igual à saúde. E o problema é que nem sempre, na maior parte das vezes aliás, os médicos informam os pacientes de todos os meios disponíveis. E o problema é muitas pessoas não ligam nada à palavra prevenção até a doença lhes bater à porta e não lhes deixar escapatória possível.
Não vou dizer que me vou tornar uma jornalista hipocondríaca, agora que coisas de saúde são o prato dos meus dias, mas é é certo que esta experiência me vai ensinar muita coisa....

quarta-feira, fevereiro 16, 2005

Memória de Um Tempo

A vida é assim mesmo: feita de encontros e desencontros, acabando com uma breve ligação pelo fio do espaço inexistente que acaba por ter a sua própria existência, quando influencia a “quotidianidade” daqueles que pensam que existem, sem ter a certeza, ao certo, se é um ser que existe por si só ou se é uma sombra mitológica, resultado do processo “projectório” imaginado na Alegoria da Caverna. Dizia, o homem: «Penso, logo existo». Mas, também ele podia dizer que pensava e logo desistia daquela vida, onde as crises existenciais e o confronto com a imaginação eram regras para aqueles que usavam a cabeça para pensar.
Penso, longo insisto. Quanto mais não seja para acumular as forças e dar um empurrão à vida, levando-a ao reboque de um tempo que tem memória, mas que não sei qual é o seu destino, a não ser que a palavra destino seja utilizada unicamente para tentar suprir as lacunas da nossa insistência com essa vida madrasta.

Penso, logo escrevo. Mesmo sabendo que muitos escrevem sem pensar e outros pensam sem escrever; continuo a desenvolver as minhas faculdades filosóficas para perceber até onde se projecta os limites do pensar e de escrever, numa ligação dialógica ou mesmo lógica, quanto mais não seja para não deixar as folhas do Word onde estou a escrever em branco. Se alinharmos nessa lógica de pensar para fazer ou fazer porque se pensa, chegamos à conclusão de que “Pensamos, logo fizemos The Strapline Chronicles”. E isso vai ser um grande passo na história, uma vez que o Filósofo disse uma coisa que até me parece normal, mas o pessoal todo achou giro e registou eternamente nas gavetas da memória da história. Continuando na sub-lógica do pensar, logo as coisas começam a parecer que são giras e que o mundo é belo porque é pensando que o Departamento de Recursos Humanos das SIC`s mandou aos seus estagiários uma cartinha bem gira. Em Cabo Verde, isso chamava-se de Morabeza, até porque a própria palavra Morabeza é o acto de bem receber… devo dizer-vos que cheguei à conclusão de que até agora não estou a dar nenhum contributo interessante ao nosso blogue. Fico sem saber porquê?, às vezes até penso que é porque é a minha grande estreia e estou um pouco nervoso e também porque já estou farto de dizer tantas parvoíces em tão poucas linhas e até já estou com vergonha de vocês, meus nobre camaradas, até podia pensar em dizer-vos “até amanhã, Camaradas!”, pois é isso mesmo que está a dar, mas também com tanta gente boa de sã saúde cognitiva a fazer campanhas nas ruas, fico até sem saber porquê que dei esse nome ao meu artigo: qual artigo qual quê?: Memória de um tempo sem tempo e sem memória, por isso, “Penso, logo desisto”.

Silvino Évora

Rita

Rita, não tens que registar te com outro nome. Basta entrares no blogger.com, ires a my profile e onde aparece display mudares o ordenhador para Rita Cruz Rodrigues..:)

Pedido

Ó Marco queria fazer-te um pedido.
Como és o administrador desta cena, retira o utilizador 'ordenhador' e volta a enviar-me o convite para o mail para eu poder colocar o meu nome direito. É que a história do 'ordenhador' tem a ver com o outro blog e a verdade é que não parece muito bem aqui no Strapline. Vamos lá a separar as águas, al right.
Assim tiras estes, envias outro convite e eu volto a registar-me mas com outro nome.
Rita.

Tirar os três ao blog

Eis que nos juntamos mais uma vez, apesar de não ser num espaço físico.
E eis que escrevo aqui pela primeira vez para tirar a virgindade a este espaço imaculado de ideias.

Saúdo-vos a todos, colegas e amigos e fico a espera de saber o que se passeia pelas vossas almas.
Em breve darei notícias mais concretas, mas hoje ando atarefada com um trabalhinho sobre o cancro...

E já agora, o nome deste espaço parece-me apropriado. Se bem que a Turma 99 também não seria mau de todo.

Olá

Olá, olá... aqui estou eu pela primeira vez a participar no Strapline!!
Agora é só começar a falar..
Rita.

terça-feira, fevereiro 15, 2005

Crónicas de um Subtítulo

Hosted by Photobucket.com

Na hora de se baptizarem as coisas, todos os nomes são rídiculos. O mesmo dizia do amor Fernando Pessoa quando em dias mais lúcidos, ao invés de se afogar em bagaço e ópio no Martinho da Arcádia escrevia umas quantas palavras a Ophélia Queiroz.

Como rídiculos deverão ser os dias lunares que antecipam toda e qualquer maternidade, com rídiculas pelejas pelo nome que se deseja que a prole concebida (mas ainda pré-nascitura) embandeire pela existência, Dinis Maria, Martim Afonso, Frederico Gustavo, porra de nomes, porca de sorte, julgará o progenitor perante os afrontamentos de classe da inflamada consorte. Inflamada, física e desvairadamente, "Ao meu filho não faltará nada, porra, nem um nome com pompa..."
"Gay, queres tu dizer", concebe no mais áspero desespero o pai a ser (sulforoso da vida, pensa já numa vasectomia).

Rídiculo vai este texto até agora e não se adivinha que melhore, mas pode ser que por estas acrobacias se chegue a um consenso sobre o quão díficil é arribar a um boa nomenclatura e surribar a língua na demanda de um nome sonoro e agradável e, mais importante, que possa responder aos agravos e aos agrados de todos e de cada um. Muitos julgarão: que expressão mediocre e merdívora é esta, "The Strapline Chronicles" e quase nenhuns verão nela utilidade alguma. Esse será o desafio primogénito, o de gerenciar em engenho e arte a creatividade que aqui escasseia.

Ainda assim, tenho para mim que na hora de se baptizarem as coisas todos os nomes são rídiculos: na hora inicial da criação poucas são as epifanias e quase nenhumas as metempsicoses. Este que (por agora) se chama The Strapline Chronicles poderia ter naufragado em nomes ainda mais ridículos como sejam "Gazeta dos Fartos", "Tribuna dos 99", "Mercúrio dos Duros" ou "Hospital-Velho", todos na órbita de alguma familiariedade, mas todos efémeros e parcos também. Uma amostra, esta que aqui fica, só para que se saiba o quão rídiculos são os jogos de humor ou as histórias que todos poderão contar que nunca farão nem os títulos dos jornais, nem os oráculos dos noticiários, nem pontos de partida para a conversa. Roteiros crónicos, dir-se-ia, pelos subtítulos e entretantos da experiência de vida de cada um.